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Entrevista | Ambientalista de Joinville diz que grupos internacionais observam Governo Bolsonaro de modo equivocado

Por: Marcos Schettini
27/08/2020 16:51 - Atualizado em 27/08/2020 16:53
Reprodução/Facebook

Formado como engenheiro agrônomo no Rio de Janeiro, Gert Roland Fischer tem uma vida dedicada aos estudos que lhe concedeu inúmeros reconhecimentos ao longo da carreira. Autor de livros e apresentador do programa Ecologia em Ação, na TV Joinville, desde 2005, Gert foi laureado no “500 Global Award”, que premiou personagens com contribuições intensivas à preservação do meio ambiente, organizado por um programa da Organização das Nações Unidas.

Atualmente atuando como consultor ambiental, realiza voluntariado plantando árvores em espaços públicos há décadas e atua ativamente em uma horta especial para idosos, lecionando aulas práticas. Convicto de ideais ambientais não compreendidos, concedeu entrevista exclusiva ao jornalista Marcos Schettini e falou sobre o desmatamento da Amazônia, fogo no Cerrado e mudanças climáticas repentinas. Defendeu Jair Bolsonaro e deu um panorama da realidade ecológica brasileira, apontando o futuro vulnerável que os humanos terão de conviver. Confira:


Marcos Schettini: O senhor acredita que as doenças como o Covid-19, por exemplo, são produto da devastação do ecossistema?

Gert Roland Fischer: No painel intergovernamental das Nações Unidas para meio ambiente, em 1989, por ocasião do Dia Mundial do Meio Ambiente em Bruxelas – Bélgica, na solenidade da entrega das condecorações para os laureados do “500 Global Award”, os painelistas do aquecimento global informaram que teríamos o ressurgimento de doenças que a humanidade já havia eliminado e, provavelmente, outras surgiriam e que já se encontravam no ambiente do planeta. De fato, estes cenários de doenças causadas por vírus, principalmente, estão aumentando ano a ano e se expandindo para paralelos mais próximos aos polos - tanto Norte quanto ao Sul. Os estudos, apesar de avançados, ainda não definiram se as mudanças climáticas estão causando a pandemia do Covid-19 e desequilíbrios nos biomas e espécies mutantes.

Schettini: A Amazônia está sob ataque permanente de politiqueiros, grileiros e garimpeiros. De quem é a culpa?

Gert: O bioma Amazônico - o último grande espaço verde úmido do planeta do qual grande parte no Brasil, esconde e guarda para a humanidade, riquezas finitas representadas pela biodiversidade, água doce e os minerais escondidos no solo. Com o esgotamento dramático desses recursos naturais no planeta Terra, os interesses globais se voltam desesperadamente para essa região intensamente estudada por potencias mundiais, em menor escala pelo Governo brasileiro, mapeando as riquezas. Para se apropriar das informações sigilosas e estratégicas dessa região com mais facilidade e usando a vulnerabilidade dos vigilantes oficiais autóctones, são utilizadas estratégias das mais diversas. Os grupos que maior sucesso tem alcançado, são as missões evangélicas e religiosas estrangeiras que conseguem se infiltrar em garimpos ilegais, nações indígenas muitas desconhecidas; ONGs ecológicas e de direitos humanos internacionais que se instalam sem o conhecimento do Governo brasileiro, inclusive estabelecendo territórios onde a autoridade nacional constituída não tem acesso. Introduzem costumes e ideologias estranhas; saqueiam a biodiversidade, patenteia o que não lhes é permitido. O governo brasileiro não tem conhecimento de quantos estrangeiros se encontram e penetram nesse bioma amazônico. A apropriação indébita acontece com nossas riquezas, plantas medicinais, produtoras de óleos essenciais e espécies desconhecidas pelos institutos de pesquisa nacionais.

Com a inteligência virtual do serviço nacional de informação, programas estratégicos de defesa e segurança nacional, novos radares, aeronaves, reforço das forças armadas para os devidos controles de fronteiras, passaremos em breve a ter um maior controle sobre essa imensa região. Não saberia identificar precisamente os culpados. O que é notável foi a negligência cometida nas últimas décadas onde as porteiras foram solenemente escancaradas para a pirataria, com objetivos claros de lesa-pátria.


Schettini: Queimadas nas florestas, no Pantanal, aumento da poluição. Por que tanto caos?

Gert: Esses cenários e acontecimentos caóticos no nosso Brasil, vem em decorrência da agricultura itinerante e de uma época em que o povo brasileiro das cidades tinha vergonha de afirmar que morava em um país de muito mato. Os próprios bancos oficiais brasileiros, somente liberavam o credito agropecuário, desde que o proprietário rural provasse que tinha derrubado a floresta e metido fogo na coivara tombada. Essa insensatez do crédito rural foi e ainda é a grande culpada inconsequente da perda da biodiversidade, morte de bilhões de animais silvestres, insetos, répteis, microrganismos, destruição e empobrecimento do solo dos diferentes ecossistemas nacionais. Desde os primórdios da civilização brasileira, o fogo sempre foi a ferramenta barata para acabar com o mato. As queimadas de limpeza foram e continuam sendo as maiores devastadoras da vida e da contaminação da atmosfera. A lei dos crimes ambientais nº 9.605, de 12/02/1998, dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente e dá outras providências. Para comprovar a total falta de rigor, o Art. 41 reza o seguinte: “provocar incêndio em mata ou floresta: Pena - reclusão, de dois a quatro anos, e multa. Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de detenção de seis meses a um ano, e multa.” Como se pode bem notar, a Lei federal não comenta nada sobre a queima para a limpeza da terra. .

A solução: promover ajustes legais e dar todo o poder para a fiscalização sem a interferência de políticos. No Brasil, menos de 5% das multas aplicadas pelo IBAMA e ICMBIO são pagas. Esse percentual diz tudo. É bom lembrar que a bancada ruralista sempre investiu seus ‘ganhos’ em fazendas com milhares e milhares de hectares na Amazônia, Pantanal e Cerrado. Entenderam por que tanto caos?A solução: promover ajustes legais e dar todo o poder para a fiscalização sem a interferência de políticos. No Brasil, menos de 5% das multas aplicadas pelo IBAMA e ICMBIO são pagas. Esse percentual diz tudo. É bom lembrar que a bancada ruralista sempre investiu seus ‘ganhos’ em fazendas com milhares e milhares de hectares na Amazônia, Pantanal e Cerrado. Entenderam por que tanto caos?

Schettini: O ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles é indiferente ou não ao caos que estamos assistindo? Há soluções?

Gert: Quando o campo está tão minado há tanto tempo, como é possível um novo governo ter condições em abraçar esse gigantesco câncer maligno que se consolidou por tantos anos? Poderia ter sido outro ministro, que o resultado teria sido o mesmo. Lembro quando Collor de Mello nomeou o engenheiro agrônomo José Lutzenberger para secretário de Meio Ambiente da Presidência da República, ambientalista que desfrutava do melhor conceito nacional e internacional? Não suportou as pressões. Quando soube que a ministra Margarida Procópio, do Bem-Estar Social, havia liberado milhões a fundo perdido para que o prefeito de Joinville desmatasse e urbanizasse mais de 2.000 hectares de manguezais, simplesmente fez as malas e voltou para Porto Alegre e reassumiu seu voluntariado na Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan).

A corrupção, os desvios de conduta são tão vulgares, que as leis ótimas que dispomos, são meros diplomas de fantasia pendurados em paredes escuras. Sob chantagem, a bancada ruralistas consegue colocar como diretor-geral do Sistema Florestal Brasileiro do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o mesmo profissional que elaborou o Código Ambiental de Santa Catarina, replicando o Código Ambiental Federal, onde as matas ciliares e algumas APPs tiveram redução em sua significância. Algo que irritou sensivelmente as lideranças ambientais em SC e no Brasil. Essas pressões são gigantescas e praticadas por políticos da velha guarda que não se aperceberam que os tempos mudaram. Honestamente, não saberia responder se há soluções a curto prazo para os atuais acontecimentos. Uma andorinha não faz verão.


Schettini: O senhor acredita no Governo Bolsonaro?

Gert: Essa é uma questão que me entusiasma e me faz ganhar novas esperanças, depois de ter vivido profissionalmente com grandes realizações, principalmente as silviculturais implantadas pelos governos iniciados com Castelo Branco. Os governos civis - depois de Figueiredo, transformaram a questão ambiental em um movimento globalizado de tendência ideológica, o que se aprofundou com os governos mais recentes.

Bolsonaro, esfaqueado como candidato, continuou sendo esfaqueado em muitos projetos e programas ambientais. A questão dos agrotóxicos, por exemplo, com a liberação de moléculas mais eficientes e menos impactantes, foi trabalhada pela mídia terrorista como um grande retrocesso. Como coordenador no Brasil do Pesticides Action Network, notei que muitos de meus colegas ambientalistas se voltaram contra o presidente. Mas aos poucos notei também que se tratava de campanha ideológica patrocinada pela imprensa terrorista que contagiou os ambientalistas menos entendidos das complexidades destes controladores de pragas e doenças no agronegócio, principalmente de exportação.

Com tantos e tantos nomeados ideológicos nos governos anteriores de tendência esquerdista, atuando no Ibama, no Instituto Chico Mendes, por exemplo, é concluir que levará um certo tempo para mudar conceitos, métodos, usurpação de espaços, que vão desde a ocupação de áreas indígenas por estrangeiros, MST ideológico para meter fogo no Brasil entre outros atos criminosos. A solução talvez fosse aumentar a vigilância, colocar em prática uma legislação mais dura, aumento do corpo de fiscais formados em colégios militares, batalhões militares florestais, incluindo fiscais do Mapa, que estariam agindo a favor o povo brasileiro. Acredito sim em Bolsonaro e o quanto ainda vai sofrer em seu governo, principalmente pelas mentiras que uma imprensa malévola e virulenta ainda vai divulgar.


Schettini: O que são ecochatos?

Gert: Tenho sentido, depois de 43 anos de ativismo ambiental e voluntariado, certos constrangimentos e injustiças quando ouço comentários levianos contra ambientalistas que atuaram e atuam na nação brasileira em prol de sua qualidade de vida.

Pessoas que pensam e agem diferentemente, existem em todos os segmentos sociais. Ser ambientalista ou mesmo ecochato pode ser até considerado um elogio, quando analisada a folha de serviços prestados no voluntariado ou profissionalmente para a coletividade. Quando acionada a Justiça por crimes ambientais, o resultado pode garantir a qualidade de vida e economizar bilhões de reais ao povo brasileiro. Esses prejuízos imputados aos criminosos ambientais geram constrangimentos e reações adversas – daí surgem – maldosamente – os ecochatos. O número de ambientalistas mortos no Brasil é uma estatística que a imprensa mentirosa não comenta. Está na consciência de cada um analisar, usando a razão, essas ponderações.


Schettini: O que entra na lista de recursos renováveis que estão ameaçados?

Gert: Com o provável aumento da temperatura atmosférica, a água vai evaporar diretamente mais rápido dos recursos hídricos. Choverá em menos tempo, o mesmo volume pluvial, o que representará maior rapidez no escorrimento com grandes catástrofes ambientais e humanas.

Esses requisitos são componentes de uma fórmula de resultado tenebroso: a escassez de água potável. As cidades terão aumentos impressionantes do aumento das populações pela falta de água em muitas regiões. A escassez da água interferirá diretamente na produção industrial, de serviços e principalmente na agricultura de exportação e na agricultura familiar. As guerras pela água já começaram. Todo o resto será mera decorrência.

Schettini: Sua luta em favor da vida se dá em qual linha ideológica?

Gert: Esta postura sempre se pautou nas recomendações da norma ambiental ISO S14.001 que não faz alusão às ideologias políticas. O momento em que vive a humanidade é tão explosivo e de consequências a curtíssimo prazo, que se não for implantada imediatamente pela razão, perderemos para sempre, o momento da reversão ambiental. Pressinto que esse momento já foi perdido. O planeta Terra não se extinguirá com a humanidade. O planeta simplesmente se reinventará naturalmente. Uma outra espécie dominará os cenários terráqueos.


Schettini: A preservação é um enfrentamento ideológico ou defesa da humanidade?

Gert: Infelizmente as ideologias seguem rituais e princípios. Quando isso acontece, os seres humanos perdem a sensatez. Tornam-se muros imutáveis. Daí residem os perigos da humanidade.


Schettini: O que a cidadania tem a ver com o ecossistema? O que fazer com o lixo de todos os seguimentos econômicos?

Gert: Os serviços ambientais gratuitos que os cenários naturais nos oferecem podem ser prestigiados ou não pela política partidária. Nota-se que o atual sistema democrático está falido. Há que se encontrar urgentemente um novo “modus vivendi”. O “ter” deverá ser substituído pelo “ser”. O planeta não consegue mais repor os equilíbrios naturais. As cidades verdes estão chegando, talvez com décadas de atraso. Os fenômenos climáticos estão assustando muitos atores que comandam o planeta. O que faremos na próxima pandemia? Por que não falamos mais sobre a dengue?

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